Recentemente conversei por quase duas horas com um empresário que tive a oportunidade de ajudá-lo a dar os seus primeiros passos em sua ascensão, desde quando começou o seu próprio negócio em SP no final da década de 90. Vou contar parte de sua história e usar o pseudônimo “João” para guardar a sua privacidade, mas com a sua autorização, vou compartilhar abertamente o seu problema, porque seguramente essa patologia é vivida por muitas pessoas, em diversos níveis sociais e em todo mundo.
Nos últimos 15 anos, João, que começou o seu negócio do zero e com muita luta, conquistou o sucesso, cresceu financeiramente e viu o seu projeto florescer, conquistando muito prestígio no meio social em que vivia. Neste mesmo período, enquanto o seu negócio prosperava, até hoje, João também gastou mais de 12 milhões de reais e, atualmente, pelo seu estilo de vida, o seu patrimônio foi reduzido a zero. Desculpe-me, mas para ser mais preciso, o seu patrimônio na realidade atualmente é uma dívida de aproximadamente 750 mil reais.
As duas empresas do João, que têm um excelente produto e um faturamento de mais de 2 milhões por ano, têm fechado o resultado de um fluxo de caixa mensal negativo que já ultrapassou o valor de 50 mil reais. Isso porque além dos custos operacionais regulares, as empresas estão com gastos excessivos, o que inclui um gasto mensal adicional de 30 mil reais, relativo aos empréstimos bancários e parcelamentos de impostos atrasados, dívidas contraídas também para bancar o seu estilo de vida.
João tem 43 anos, casado há quase 20, tem dois filhos adolescentes e é uma pessoa honesta e trabalhadora. Então, como ele conseguiu se meter nessa situação depois de ter ganhado tanto dinheiro e construído um negócio tão promissor?
O declínio
Eu conheço muito bem essa família e o seu negócio. Posso lhe assegurar que não estamos falando de um problema mercadológico que a sua empresa pudesse estar atravessando, mas única e exclusivamente de um problema relacionado ao seu estilo de vida.
João não é dependente químico, não sustenta amantes ou famílias em paralelo, não é viciado em jogo e nem perdeu o seu dinheiro na Bolsa de Valores. E como conheço de perto e acompanho, buscando ajudar essa família há muito tempo, há muitos anos João é viciado numa droga que afeta a todas as camadas da sociedade. Ricos e pobres de todas as raças e credos a cada dia têm sofrido muito pelos efeitos destrutivos deste psicotrópico devastador chamado consumismo.
Não estou me referindo a um consumo consciente ou ao desejo legítimo por experimentar novos produtos, considerando inclusive que este é um dos motores da economia, mas sim a um exagero doentio, o que estou classificando como consumismo. Apesar de não ser psicólogo, pela minha experiência em mais de 20 anos formando executivos e empreendedores, pude observar em inúmeros casos que o consumismo é uma séria patologia comportamental que faz com que o indivíduo, sem que ele tenha a consciência clara desta condição, consuma de forma desenfreada produtos ou serviços sem a real necessidade dos mesmos.
Observei que muitas podem ser as razões para este comportamento, como por exemplo, preencher um vazio decorrente de quadros depressivos, por necessidade de aceitação social, o que neste caso, grifes e marcas passam a ter uma enorme importância, falta de autoestima, dentre outras razões que podem dar origem a um comportamento extremamente consumista. Este estilo de vida é rapidamente assimilado por toda família que passa associar a sua felicidade ou autoestima ao consumo de produtos, seja um novo modelo de celular, um novo carro, roupas de moda, viagens que os amigos fazem, bolsas, sapatos, novos modelos de computador, compras excessivas no supermercado, em restaurantes, além de parentes que, atraídos por este estilo de vida acabam participando dessas orgias do consumo bancado pelo filho ou filha que de repente ficou rico(a). Tudo isso fomentado por excessivo tempo assistindo TV ou internet, onde todos são alimentados e bombardeados pelos estímulos da propaganda.
Este problema não é privilégio dos ricos. Como disse, é um estilo de vida que se manifesta em todas as camadas da sociedade. Nas classes mais baixas, os cheques pré-datados, promoções relâmpagos, representam “oportunidades” imperdíveis que fazem com que o indivíduo mergulhe na escravidão do cartão de crédito, cheque especial e dos empréstimos extorsivos de instituições financeiras e até de agiotas. Como consequência, passará toda a vida pagando contas sem evoluir. Sempre terá pose de bacana com a sua TV LCD, TV a cabo com per per view, e o seu carro financiado em 80 prestações, mas terá a sua caixa de correio sempre lotada de cartas de cobrança.
Como posso evitar?
Eu poderia me alongar muito neste tema, mas vou resumir. O segredo básico para construir uma vida próspera é simples: gastar menos do que ganha. Um sintoma muito comum do início da dependência da droga do consumismo pode ser observado em frases do tipo: “Mas é impossível viver gastando menos do que eu gasto. Eu ganho muito pouco”. Outra muito comum, dita por aqueles que já estão num estágio mais avançado é: “Pra que vou guardar dinheiro? Eu não sei nem se vou tá vivo amanhã…” ou para justificar o seu estilo de vida, tentam desqualificar o conselho de gastar menos do que ganha, argumentando de forma apelativa assim: ” Diz isso pra quem ganha um salário mínimo”… Os sintomas psíquicos do consumismo são muito sutis e são sempre acompanhados desses argumentos auto-convincentes, muito parecidos com a forma que também se observa no comportamento de indivíduos com alguma dependência química.
Pra você prosperar, poder ajudar outras pessoas e acumular capital para poder investir numa real oportunidade de negócios, é necessário estar livre do consumismo, livre desta escravidão psíquica, com a sua família saudável e pronta para construir um futuro promissor. Isso porque o consumismo visa sempre o imediato em detrimento do futuro, mas para construir um projeto promissor, o foco deve estar no futuro, investindo o seu presente para construí-lo. Consumismo e prosperidade são inimigos, percebeu?
Para finalizar, e o que vai acontecer com o João? Bem, infelizmente ele e toda sua família vão arcar com as consequências do estilo de vida em que viveram até hoje. Eu estou o ajudando a fazer um plano de longo prazo para sair dessa, além de recomendá-lo um tratamento psicológico com toda família. Se ele tiver disciplina e humildade, com muito trabalho, tenho a certeza que vai virar o jogo. Do contrário, o buraco só vai aumentar, transformando-se num poço sem fundo. As consequências neste caso seriam incalculáveis.
Para os que esperavam um final feliz, desculpe-me desapontá-lo. Fica aqui o exemplo do quão grave e o quanto o consumismo pode fazer uma família sofrer.
Se você se identificou com alguma parte desta história, não pague pra ver e peça ajuda imediatamente para um amigo, pessoas de confiança ou até ajuda profissional. Do contrário, tenha a certeza de que você poderá pagar muito caro.
Fonte: Administradores